quarta-feira, 17 de junho de 2009

Esse amargo, doce amor! (Parte 1)

Dona Xica estava em sua casa no alto do morro, com vista para praia, rua estreita e calçada, onde passavam os pescadores e moradores do Morro Dos Aflitos. Ela estava na ponta da mesa de toalha xadrez vermelha e branca, pensativa, mergulhada em suas decepções. Sua filha, Zilda já se casara e fora para tubarão, enquanto que seu filho mais velho, por vaidade e imaturidade saíra de casa porque estava cansado de viver trabalhando para ajudar os pais, e ter que aturar os palpites de sua mãe. “Ingrato”, pensava ela. Seu marido enquanto isso, estava viajando, no seu trabalho de maquinista de trem, ele passava muito tempo viajando, e cada vez que ele voltava, encontrava o carinho de saudade de sua esposa, enquanto que ele, sem um tostão no bolso e bafo de cachaça, acolhia-se em seus aposentos, dizia estar cansado e que o único dinheiro que ela veria, seria aquele destinado aos custos do lar. Pedir o desquite seria como perpetuar sua já desaprovação aparente por parte de todo sua família, principalmente por que ele era trabalhador e agradável com todo mundo. Mesmo assim ela não pensava em outra coisa. Principalmente depois de conhecer Dirceu, um músico poeta, desajeitado, um pouco mais novo, moleque, malandro, mas apaixonante. Ele era um negro alto, magro, e brincava com o tom da pele da coroa cantando que adorava um café com leite. Não foi difícil pegá-la sozinha em casa um dia, beijar-lhe a boca e tocar um choro de amor. Ela, muito descontente com a vida, não soube o que fazer a não ser tocar-lhe pra fora a vassouradas. Ele dançava muito, conhecia muitas moças belas a arrastar-lhe o rabo de saia, por isso o seu fogo por Dona Xica foi se apagando aos poucos, como uma paixão adolescente. Mas ele não conseguiu acalmar seu coração quando passando pela frente da casa de Xica, avistou a sua filha Zilda, linda como sua mãe, mas com um vigor e mocidade maior, e sorriso muito mais encantador. “Tenho uma queda danada por mulher casada” pensou ele, matutando um jeito de roubar ela pra ele...

Continua...

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Os textos que não tem o nome do autor/fonte, são de minha própria autoria. (Guilherme Bonassa)

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