Da arte, à política e sociedade.
Não sou crítico de música, cinema, literatura nem de qualquer arte. Mas não me importo, leia se quiser, concorde se quiser, ter uma opinião é que é preciso.
Brasil possui um terreno fértil para a literatura. Com seus escritores do passado, com seus clássicos inesquecíveis ou com os atuais perseverantes que ainda escrevem; mesmo sabendo da esmagadora concorrência estrangeira que toma os poucos que ainda leem nesse país. Mas e na música, no cinema, nos quadrinhos?
É claro que há outras formas de arte, porém aqui apenas escreverei daquelas que fazem parte da cultura popular, ou seja, que abrange a maior parte da população mundial. Mas antes de tecer qualquer comparativo com outras culturas vamos conceitualizar duas coisas, dois tipos diferentes de expressão cultural: a cultura regional e a cultura global. A regional é aquela que é uma no norte, outra no nordeste, outra no sul. É o forró, o samba, o cordel, o sertanejo. A global é aquela que já tomou o mundo todo. O rock, o cinema e os quadrinhos mainstream; até mesmo as músicas descendentes das regionalistas, mas com forte apelo pop (sertanejo universitário por exemplo). Sendo assim, discutiremos aqui apenas a cultura global, pois a regional nem sequer é cabível de critica, pois está mais para uma riqueza histórica do que para uma forma de arte comercial.
Sendo assim, porque o Brasil não está a altura de países como Estados Unidos – quando se fala de cinema, quadrinhos – e Inglaterra – música, principalmente rock. A primeira teoria a surgir na mente é o fator econômico. Sim, este tem um apelo muito forte, mas é difícil entender porque aqui tanta coisa ruim fatura muito, e tão pouco do bom pode-se encontrar por aí. Acredito que se o fator economia fosse o real motivo, estaríamos nós comprando a mídia de baixa qualidade, e a de alto nível estaria as sobras nas prateleiras. Mas não é bem assim.
Talento também não falta, é só assistir uma novela no canal certo para perceber isso. A qualidade de filmagem, fotografia e principalmente atuação, é até maior que muito clássico do cinema estrangeiro, e com certeza é muito maior que as atuais séries de TV americanas.
O problema está na limitação artística intrínseca na alma do artista brasileiro. O maior exemplo disso é a Paula Fernandes, o maior fenômeno atual da música brasileira, com talento abundante, um visível investimento pesado e sucesso estrondoso. Porém, faz músicas de poesia simples, melodias não muito elaboradas; e o pior de tudo, disputando mercado no lixo pop do sertanejo universitário, ao lado de Luan Santana, Bruno e Marrone. Sinceramente, ela estar ao nível destes últimos reflete exatamente o que eu quero dizer com “limitação”. Não há sequer, no Brasil, uma cultura underground, cult, que um jovem possa recorrer para curtir algo novo e bom. Se quiser músicas boas, escute músicas antigas.
Já no cinema, não há nenhum Clint Estwood com sua elegância, ou um Tarantino com sua loucura. Há apenas cineastas produzindo filmes que há muito são mais do mesmo; comédias românticas, um draminha aqui, outro ali. O nosso ultimo grande trunfo foi um filme de ação com grande crítica política e social, retratando a realidade do crime no país. Algo como The Godfather fez muito melhor nos anos 70. Por último, Cisne Negro – embora não tenha sido tudo aquilo que a mídia apontava, como sempre – é lançado em 2010, e um ano depois o Brasil lança Bruna Surfistinha. É claro que a comparação entre estes filmes não é válida, é até covarde, mas a confrontar mercado com mercado é uma questão importante quando se fala de criar no Brasil um cenário rico em criatividade, expressividade e qualidade. Faturamento já se tem.
O fato de Estados Unidos e Europa serem uma potencia econômica, e a produção artística ser muito mais rentável, para mim não é vantagem. Quem quer escrever, ser músico ou fazer filmes no país tem que ser muito apaixonado, pois é uma empreitada quase impossível para quem não tem padrinho, ou não é de família rica. Enquanto isso, no exterior vemos tanto incompetentes atraídos pelo dinheiro, e não pela arte.
Mesmo com o fator economia, conseguimos produzir tanto. Porém, o Brasil é limitado, é pop demais, e isso até que não seria problema se alguém pelo menos criasse algo diferente.
Dalai Lama, em um de seus livros escreveu que para mudar o mundo, primeiro temos de mudar nosso interior, o que gerará um melhor ambiente familiar, e assim por diante o bem se expandiria em proporções imensuráveis. Pois bem. Eu vejo que a maior ferramenta de mudança de nosso interior é a arte. A arte emociona, trabalha nosso lado humano, critica, nos faz ver como o mundo é ao nosso redor de uma maneira que às vezes não vemos sozinhos.
Sendo assim, como vamos progredir como sociedade se nossa arte não progride? Se nossa maior cantora hoje não escreve musicas sobre sociedade, politica e religião, como faziam Renato Russo, Humberto Gessinger, Cazuza e etc.? Eles não mudaram o mundo, nem o pais, mas devem de ter aberto os olhos de muita gente. Na ditadura, quando havia algo palpável a qual lutar contra, a arte se manifestou como uma potente arma a favor da liberdade. Mas hoje as pessoas simplesmente esqueceram que ainda não somos livres, se conformaram; e os artistas, limitados, não tocam os corações revolucionários, não abrem os olhos de ninguém. Ao contrario, são refúgio dos oprimidos, embriagando aqueles que querem esquecer da sociedade em que vivem. Conseguem fazê-lo durante o show, mas na volta pra casa são assaltados. Isso vale alguma coisa? Se vale, ou quanto vale, eu não sei, só sei que tem gente ficando rica com isso.
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